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Escrito por: Juliana Barros

Quando: 9 de outubro de 2025

Technology Readliness Review (TRL): como medir maturidade tecnológica com a escala utilizada pela NASA

O Technology Readiness Level (TRL), criado pela NASA nos anos 1970, é uma escala usada mundialmente por agências e instituições para classificar tecnologias em diferentes estágios de maturidade tecnológica.

Ele se baseia em evidências de testes, análises e validações que demonstram em que ponto uma tecnologia se encontra no ciclo de vida desde a pesquisa até a implementação.

Além da NASA, uma das principais entidades que adaptaram e difundiram o TRL foi a FHWA (Federal Highway Administration), agência do Departamento de Transporte dos Estados Unidos responsável por políticas, pesquisa e inovação em infraestrutura rodoviária. Desde então, o modelo se consolidou como referência internacional, utilizado em setores como transporte, defesa, energia, saúde e aeroespacial.

A escala de 9 níveis do Technology Readiness Level

Segundo a NASA e a FHWA, os níveis do Technology Readiness Level são organizados da seguinte forma:

  • TRL 1: Os princípios básicos são observados e relatados, ou seja, pesquisa inicial, ainda sem aplicação definida;
  • TRL 2: Ocorre a formulação do conceito ou aplicação tecnológica;
  • TRL 3: Prova de conceito analítica e experimental, são feitos os primeiros testes de viabilidade;
  • TRL 4: Validação de componentes em ambiente de laboratório;
  • TRL 5: Validação de componentes integrados em ambiente relevante (não necessariamente no campo, mas em condições realistas);
  • TRL 6: Protótipo próximo ao modelo final demonstrado em ambiente relevante;
  • TRL 7: Protótipo demonstrado em ambiente operacional;
  • TRL 8: Sistema completo testado e qualificado em ambiente real;
  • TRL 9: Sistema em operação comprovada, totalmente implantado.

A progressão é sequencial, ou seja, para que uma tecnologia avance, deve atender a todos os requisitos do nível atual e dos anteriores.

Por que usar TRL?

Segundo o guia da FHWA (Administração Federal de Autoestradas dos EUA), o TRL ajuda a:

  • Padronizar a comunicação técnica, quando se fala “TRL 6”, o avaliador, proponente e parceiros sabem exatamente o que esse nível representa;
  • Mapear os riscos, ao enxergar claramente quais etapas ainda faltam e pode planejar mitigação;
  • Melhorar a eficiência na alocação de recursos, projetos com TRL evitam que dinheiro vá para ideias ainda muito imaturas;
  • Atrair parceiros e investidores, que procuram projetos com evidência técnica.

O processo de avaliação do Technology Readiness Level

O TRL Assessment é a metodologia formal para atribuir um nível a uma tecnologia e de acordo com o guia da FHWA, esse processo envolve:

  • Preparação: definição dos objetivos, escolha de painel de especialistas e organização de materiais de referência.
  • Avaliação: discussão e pontuação coletiva por especialistas, com base em evidências de testes e validações.
  • Resultados: elaboração de um relatório que consolida a avaliação, recomendações e próximos passos para avanço tecnológico.

Limitações do TRL e a dimensão humana

Embora o TRL seja amplamente aceito, pesquisadores destacam que sua aplicação é tecnologia-cêntrica, ou seja, foca apenas no desenvolvimento técnico. 

  • Não mede fatores humanos, como facilidade de uso ou carga de trabalho.
  • Não avalia custos, riscos de mercado ou sustentabilidade econômica.
  • Depende da interpretação dos avaliadores, o que pode gerar variação nos resultados.

No artigo Technology Readiness Level as the Foundation of Human Readiness Level (acesse aqui), aponta-se que o TRL não considera a prontidão da tecnologia para ser utilizada por humanos.

Falhas em setores como nuclear, aviação e cibersegurança mostram que a maioria dos acidentes decorre de fatores humanos. Para enfrentar essa lacuna, foi criado o conceito de Human Readiness Level (HRL), inspirado na estrutura do TRL, mas voltado para medir a usabilidade, segurança e satisfação do usuário.

Assim como o TRL possui nove níveis, o HRL também é estruturado em etapas que avaliam desde o entendimento inicial do cenário de uso humano até a validação da tecnologia em operação com usuários reais.

Exemplo prático: FAPEMIG e o edital Deep Tech MG

A FAPEMIG (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) é um excelente exemplo no Brasil do uso de TRL em editais de inovação. Em seus chamamentos, como o Deep Tech MG (2025), a FAPEMIG exige que startups submetam tecnologias com TRL 6 ou superior para serem elegíveis ou terem prioridade.

Por que isso? Significa que a tecnologia já foi testada em ambiente relevante, não só em laboratório, mas em condições próximas da realidade que o usuário enfrentará. Isso diminui riscos para a fundação e para o empreendedor.

No contexto deste edital:

  • Se você está ainda em TRL 4 ou 5, será necessário subir para TRL 6 antes de submeter;
  • Você deverá apresentar evidências: relatórios de teste, fotos/vídeos do protótipo operando, dados de desempenho, métricas, laudos técnicos, integração com contexto real;
  • Também se espera que você tenha um roadmap claro para evoluir de TRL 6 → 7 → 8 → 9, apontando os marcos e prazos.

Assim, a FAPEMIG filtra projetos que já demonstraram capacidade técnica além do laboratório e focam em iniciativas com chance real de escala, mercado e impacto social.

Conclusão

O Technology Readiness Level (TRL) é hoje uma das ferramentas utilizadas para avaliar a maturidade tecnológica em setores como transporte, defesa, energia, saúde e aeroespacial. Ele fornece uma linguagem comum para comparar projetos, entender riscos de desenvolvimento e orientar investimentos.

No entanto, como demonstram estudos recentes, sua aplicação isolada não garante sucesso no uso real. A evolução para conceitos complementares, como o Human Readiness Level (HRL), reforça a necessidade de considerar o fator humano em todas as etapas de pesquisa e inovação, especialmente em projetos que buscam escala e impacto real.

Juliana Barros

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